Março de 2024 e, mesmo que a situação tenha melhorado, nem tudo mudou. Afinal, as mulheres ainda ocupam apenas 29% dos cargos de liderança nas indústrias do Brasil, enquanto os homens representam 71%, conforme uma pesquisa feita pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), em parceria com o Instituto FSB. Além disso, o estudo também divulgou que a proporção média de funcionários nas empresas do setor também é desigual. Enquanto 70% dos colaboradores são masculinos, o sexo, considerado por muitos como o mais frágil, ocupa 30% das empresas.
Talvez você não conheça o filme Equity (Mercado de Capitais, no Brasil), mas ele retrata a trajetória de diversas mulheres. O longa apresenta as dificuldades enfrentadas pelas que desejam crescer em ambientes tradicionalmente masculinos, como o mercado financeiro. Embora seja de 2016, ainda representa a sociedade de maneira fiel. Na apuração Atitudes Globais pela Igualdade de Gênero, realizada pelo Instituto Ipsos, 27% dos brasileiros se sentem desconfortáveis em ter uma “chefa”. Esse percentual pode até ser considerado pequeno mas, na prática, é ainda mais intensificado.
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Interrupções em reuniões — hábito conhecido como mansplaining —, dúvidas sobre a capacidade e até mesmo assédio são alguns dos acontecimentos sofridos diariamente. Com tantos pontos negativos, nem parece que ser uma líder feminina é o desejo de diversas meninas. A seguir, você conhecerá três mulheres que se tornaram referência na sua profissão, superaram barreiras e lutaram como garotas.
A primeira a cruzar a linha de chegada
Mãe, carioca, mulher e a primeira engenheira da Stock Car. Essa é Rachel Loh. A história dela começou há 20 anos, quando entrou para o mundo da corrida: “Eu fui descobrir o automobilismo na faculdade, quando eu estava cursando engenharia mecânica e me envolvi com um projeto de extensão, onde os alunos podiam projetar, construir e pilotar um veículo off-road”. Porém, seguir essa paixão nem sempre foi fácil.
Estreada em 1950, sob a Federação Internacional de Automobilismo (FIA), a Fórmula 1 já conquistou o coração de vários amantes de carros. Atualmente, dez equipes e 20 pilotos masculinos integram a modalidade mais avançada da corrida. Porém, quando falamos sobre competidoras, o número se reduz a cinco mulheres em 73 anos. Mesmo depois de todo esse tempo, esse meio ainda tem pensamentos e ações de décadas passadas. “O automobilismo é difícil para as mulheres porque ele ainda é um ambiente muito masculino, machista, elitista e branco”, relata.
Entre obstáculos e desencorajamento, a engenheira nunca pensou em desistir do seu sonho e, como consequência, se tornou referência para diversas garotas que buscam seguir os mesmos passos. Para quem deseja ir em direção a essa carreira, Rachel tem um conselho. “Corra atrás e não desista. Você vai ouvir muitos nãos antes de ouvir o seu primeiro sim”.
Uma nova oportunidade
“A Simple Organic surgiu depois que eu virei mãe”, conta Patrícia Lima, fundadora e CEO da marca de skincare e produtos de beleza sustentáveis. “A maternidade está em todos os meus insights e a minha mudança de mindset. E sim, foi muito difícil ser a mãe intensa que eu sou e ser, ao mesmo tempo, empresária em um momento de transição de carreira.”
Atualmente, a empresária diz cuidar da vida profissional a partir dos horários da filha. “Eu faço uma construção de cotidiano, carreira e de tudo a partir do meu papel de mãe sem deixar de lado a mulher, empreendedora e empresária que sou. O desafio é equilibrar todos os pontos diariamente, então, é difícil e cansativo, mas vale muito a pena porque eu construí algo que eu acredito e por estar presente vivenciando intensamente cada etapa da vida dela”, complementa.
Podemos dizer que Patrícia nadou contra a maré, afinal, segundo dados do Global Entrepreneurship Monitor (GEM), o número de mulheres empreendedoras é de 43,5%, enquanto os homens são 56,5%. Mas quais são os principais motivos para essa diferença?
É hora de dar o primeiro passo
Além de maternar, as mulheres enfrentam dúvidas frequentes sobre a própria capacidade. Antes de fundar a Ustē Cosméticos, Josi Birckheuer Richter trabalhava com o marido em uma empresa familiar, onde esse preconceito era ainda maior.
“A gente ainda vê que o masculino é sempre mais valorizado. Desde que eu criei a Ustē, muitas fábricas até hoje não me retornaram, eu bati na porta e falaram: ‘tu é só mais uma, um rostinho bonito’. Porém, quando eu levei os meus dois diretores juntos, o tratamento foi diferente”, conta. A empresária complementa dizendo que esses desafios são mais uma barreira a ser quebrada.
Por fim, se você deseja entrar no universo do empreendedorismo, saiba que apesar das lutas, os momentos de glória chegam. Para se tornar uma empresária, Josi acredita que a principal característica necessária é ser pró-ativa e leva como lema “primeiro o progresso e depois a ordem”. “Busque o caos, porque o caminho vai aparecer e tu vai organizando. Na dúvida, vai lá e faz.”
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