As cores, as formas e os materiais reproduzem regras sociais, culturais e religiosas de um determinado tempo. Os significados são construídos a partir de processos sócio-históricos e variam de sociedade para sociedade. Para os egípcios, por exemplo, o branco representava pureza, e a cor vermelha, para os romanos, demonstrava prestígio social e poder. Mas existe um fato: os sentidos podem permanecer ou mudar em cada cultura e tempo. Deste modo, do ponto de vista histórico, as transformações começaram a ocorrer com maior frequência na segunda metade do século XVIII e resultaram na moda como uma referência característica do capitalismo e de distinção social.
Para a psicóloga, especialista em psicologia da autoimagem e escritora do livro ‘Marcas do Vestir – Entre a Autoestima, a Psicanálise e a Moda’, Gabriela Cristina Maximo, a moda é uma indústria que “engloba design, sustentabilidade, o mercado de consumo, as tendências, a parte histórica do mundo e um lugar de trabalho extenso”.
Embora as cores sejam constantemente associadas ao movimento fashion, elas também se fazem presentes na estética pessoal, nos negócios e influenciam ativamente a vida de diversas maneiras. Entender como as tonalidades podem induzir determinadas escolhas é essencial para manter o senso crítico. Por outro lado, é preciso estar ciente de que o mundo da coloração sempre estará intrínseco à você, desde a escolha da roupa até a cor da parede.
Elas estão em todos os lugares
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Amarelo-manteiga, vermelho-cereja e cinza foram algumas das tendências que perduraram em 2024. Mas como isso aconteceu? Em 2023 o live-action de Barbie estreou nas telonas e trouxe o rosa-choque à tona novamente. Embora esta cor tenha tido um grande catalisador, o que tornou as três tonalidades citadas uma febre?
“As tendências estão por toda parte. No que comemos, onde vivemos, na forma como nos comunicamos, nos conteúdos que consumimos e por isso elas ditam os produtos que queremos e os serviços que desejamos”, explica a Head of Client Engagement na Worth Global Style Network (WGSN), Mariana Santiloni.
Para determinar qual cor predominará no ano, a empresa, que faz uma curadoria global de tendências, usa uma metodologia proprietária: a STEPIC. Com ela os profissionais rastreiam os fatores de mudança na sociedade: tecnologia, meio-ambiente, política, industrial e criatividade. “A partir do comportamento do consumidor conseguimos rastrear os sentimentos e entender como isso será transformado em cores e produtos.”
Tendência é sinônimo de universalidade?
Embora o termo tendência tenha se popularizado nos últimos anos, Philip Kloter, estadunidense considerado o ‘pai do marketing’ já o denominava em 2000 como uma direção ou sequência de eventos que possuem um determinado impulso e sentido. No mundo da moda, “elas são influenciadas por uma série de fatores, incluindo cultura, economia e contexto social, e podem variar de acordo com a região”, analisa a consultora de imagem, Débora Guterres. A todo momento, novidades aparecem e crescem no mercado e, muitas vezes, aparentam ser obrigatórias para quem deseja se encaixar em determinados meios sociais.
Existem diversos catalisadores, mas os principais são os influenciadores e as redes sociais, justamente pelo seu alto poder de influência. A psicóloga Gabriela alerta para o excesso de trendcores e o impacto do ponto de vista do consumo, além dos danos à saúde mental de quem se sente refém da moda para pertencer a algum grupo.
A dica da profissional é não se prender apenas ao que está em alta. Afinal, a moda deve ser uma maneira de expressão individual e não uma forma de unificar todos os estilos. Nesse sentido, conhecer e entender a sua própria essência é necessário para compreender o que aderir e o que deixar passar.
Não é só uma cor
Comumente as cores são associadas apenas ao bem-estar e à autoimagem. O pensamento não está incorreto, no entanto é necessário levar em consideração as demais influências decorrentes do uso de determinados tons.
Segundo uma pesquisa realizada pela WGSN, 98% dos entrevistados afirmam que suas decisões de compra são motivadas pelas tonalidades. “A cor desempenha um papel fundamental na identidade das marcas e de seus produtos, e a relação entre ela e emoção deve agora ser uma consideração comercial para as marcas”, explicita Mariana.
Nesse sentido, é correto afirmar que as cores também são vistas pelas suas propriedades éticas e emocionais, principalmente à medida que as pessoas se conscientizam sobre como elas impactam o meio-ambiente e o próprio bem-estar.
“Cada vez mais as linhas entre o digital e o físico estão se fundindo e, como resultado, as cores que os consumidores veem na tela estão se traduzindo diretamente nos produtos que eles compram. Essas cores estão se tornando mais matizadas, como é o caso dos tons vibrantes, dos neons noturnos e dos verdes naturais.”
Diga sim a você mesma!
Há estudos que analisam a vestimenta como parte de expressão e comunicação humana. A psicologia do vestir pesquisa e entende o vestuário como manifestação de sintomas sociais e pessoais. Segundo Gabriela, quem atua nessa área não dará dicas de moda e, sim, contribuirá com os sentidos daquilo que se está usando.
Seja para o primeiro emprego, para um date ou até para um evento de família, existem milhares de dicas na internet sobre qual cor, estilo e modelo de roupa usar, mas isso pode ser levado como absoluto? “A verdade é que se azul não for uma cor que te dá confiança, ir fantasiado para uma entrevista de emprego te gerará desconforto e poderá ter um efeito contrário do que é estabelecido”, pontua a psicóloga.
Escolher a roupa e a cor ideal vai muito além do que é trend nas redes sociais, já que precisa fazer sentido e condizer com a personalidade de quem as está usando. Entender se a sua paleta de cores é dominada por tons quentes, frios, claros, escuros, suaves e intensos, é essencial para esta etapa de autoconhecimento.
A minha paleta de cores é…
Se você não é a personagem principal da Turma da Mônica, o seu armário não deve ser apenas repleto de blusas vermelhas. Mas será que ter apenas uma tonalidade de roupa é tão ruim assim? Entender qual modelo e cor de vestuário combina mais com o seu eu externo e interno é a essência da coloração pessoal.
“Ela é um teste que identifica as melhores cores para cada pessoa. Aquelas que melhor combinam com o tom de pele, olhos e cabelo”, conta a consultora de imagem, Débora Guterres. “O objetivo é realçar a beleza natural, deixando tudo mais harmônico.”
Você já experimentou um look e sentiu que as cores não te valorizam? É justamente nesta etapa que a colorimetria entra. “Usando as cores a sua beleza ficará realçada, e isso lhe deixará mais iluminada, com uma aparência mais saudável, além de proporcionar escolhas assertivas”, complementa.
5 dicas fashion para o dia a dia
Com certeza você já deve ter ouvido a seguinte frase: “A moda é para muitos, mas o estilo é para poucos”. Será que essa afirmação deve ser levada sempre em consideração? Podemos até dizer que sim, mas nada impede que seja construído um style autêntico e de personalidade. Confira cinco truques para descobrir o seu visual ideal, segundo a consultora de imagem, Débora Guterres.
- Seja autêntica: não se fantasie de algo que você não é! “A gente só passa confiança quando estamos confiantes. Seja usando alfaiataria ou jeans”, orienta.
- Não se compare: respeite o seu biotipo, sua situação financeira e faça as melhores escolhas.
- Busque referências: crie pastas com inspirações de looks que você gosta. E lembre-se sempre da imagem que você quer passar.
- Peças chaves: comece investindo em peças-chaves, que conversem entre si e combinem com diversas ocasiões. Em seguida, se aventure e incremente acessórios que tenham a sua cara.
- Conheça as suas roupas: “Quando quiser comprar algo, pense em pelo menos três looks que poderiam ser montados com a peça nova”, recomenda a consultora.
Aura e vibrações
Vermelho é paixão, verde é calma e preto é mistério. A crença de associar uma tonalidade a um sentimento ou estado de ser existe há milhares de anos, mas não é por isso que no século XXI ela ainda deva ser levada tão ao pé da letra. “Embora as cores tenham um sentir que pode evocar percepções gerais e impactos socialmente construídos, quando vestido e no campo da singularidade do sujeito, precisamos observar como cada um se relaciona com isso e como se sustenta em seu cotidiano”, explica Gabriela, especialista em psicologia da autoimagem.
Isso não significa que você deva ignorar os conceitos milenares das cores para montar diferentes visuais. No entanto, não há porque excluir uma tonalidade que gosta apenas por conta da sua representação. O que importa é vestir aquilo que faz você se sentir bem, ou seja, não se prenda a pensamentos e determinações gerais.
Usar preto dá azar?
Mesmo que seja uma cor universal e que agrada muitas pessoas, o preto ainda é considerado por alguns como símbolo do azar, e neste preconceito até os felinos estão inclusos. Além destas simbologias, na Idade Média a tonalidade era usada como uma maneira de dividir as classes sociais: enquanto a nobreza tinha exclusividade com as cores claras, as classes mais pobres tinham de usar tons escuros.
Porém, com a ascendência da burguesia, o preto começou a ser visto em carros, ternos e decoração. O que acarretou em uma tendência mundial estrondosa. E atualmente, se você pesquisar por looks fashionistas e elegantes, provavelmente as primeiras indicações serão com a cor preta. O segredo é se livrar dos paradigmas e vestir aquilo que faz sentido para você.
A cor perfeita par ao Ano-Novo
Com o fim do ano se aproximando, é inevitável pensar na roupa que será usada no Réveillon. Segundo estudos da Terapia das Cores, cada pessoa tem uma ou duas tonalidades que devem ser incrementadas no look de Ano-Novo. Isso porque as escolhas para a data se conectam com o número que regerá seu próximo ciclo. Conheça a simbologia por trás de algumas opções clássicas da festa da virada:
Branco: característico do Réveillon, vestir branco é uma maneira de deixar as experiências negativas para trás e começar o ano renovado.
Amarelo: esse tom promete te ajudar a ter mais foco e concentração nas atividades diárias, além de estar relacionado com riqueza e abundância.
Vermelho: a tonalidade que traz energia e movimento é a escolha ideal para quem deseja coragem e ousadia.
Rosa: além de simbolizar o amor, o rosa está relacionado com justiça, sucesso, flexibilidade e harmonia.
Azul: essa paleta é conhecida por acalmar, tranquilizar e gerar mudanças (muitas vezes necessárias) na vida.
Verde: equilíbrio, harmonia e organização definem como será o próximo ano de quem usar a cor.
O que esperar para 2025?
Conforme a Head of Client Engagement na Worth Global Style Network, Mariana Santiloni, a partir de 2025 a importância dos tons escuros irá aumentar à medida que a policrise se agrava e os consumidores optam por cores mais versáteis, duráveis e com longevidade.
De acordo com a profissional, o interesse pelo verde e azul aumentou em 2024, devido ao crescimento nas pesquisas relacionadas a compras. Além disso, as buscas por azul-petróleo cresceram 9% em relação ao ano anterior no Google Trends.
“Para 2025 a WGSN aponta o Future Dusk, um tom sombrio e misterioso que se situa entre o azul e o roxo”, conta Mariana. “A cor tem um sentido de escapismo e é perfeita para um período de enormes mudanças. Já para 2026 apontamos o Transformative Teal, que é uma fusão fluida entre os clássicos azul escuro e verde aquático, é uma coloração que se alinha com a responsabilização ecológica que os consumidores exigirão cada vez mais.”
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