Chegar ao final do dia com o sentimento de satisfação e pertencimento são dois dos principais objetivos das pessoas, no que se refere ao mercado de trabalho. Priorizar a saúde mental também está entre os fatores essenciais, de acordo com a ADP Research Institute. A pesquisa People at Work 2022, realizada com quase 33 mil trabalhadores, em 17 países, aponta que, quatro em cada cinco brasileiros de-
sejam transitar de carreira em busca de mais qualidade de vida.
Segundo o estudo, grande parte dessa mudança está atrelada à pandemia da Covid-19, que remodelou o cenário do emprego de forma dramática. Para além da remuneração e progressão, questões profundas ligadas ao bem-estar e equilíbrio entre vida profissional e familiar estão sendo consideradas como fundamentais. O gestor de food service, Cristiano Schuck, 35 anos, integra esta realidade.
Atualmente satisfeito com a profissão, ele conta que nem sempre foi assim. “Atuo no ramo da gastronomia desde os 14 anos, e embora trabalhar com alimentação sempre tenha feito sentido para mim, chegou um momento que me dei conta de onde estava e não era, exatamente, onde eu gostava.” Para ele, o investimento de tempo, energia e saúde passou a não compensar. Foi então que decidiu mudar o foco da profissão. “Comecei como confeiteiro em uma empresa de alimentos, mas cheguei ao topo e não conseguia avançar. Resolvi que precisava fazer transição de carreira”, conta.
O desejo de mudar
Segundo a mentora de carreira, consultora em Recursos Humanos e professora de pós-graduação, Talita Oliveira, uma pessoa deve optar pela transição de carreira quando está insatisfeita ou em dúvida do rumo que a vida está tomando. “O trabalho precisa estar conectado com o que se quer para a vida. E quando não atende essa evolução, é preciso mudar”, esclarece.
Talita explica que outros dois pontos também influenciam na decisão profissional. “Se você está num lugar estressante, sem reconhecimento profissional, em um ambiente tóxico ou sem saber lidar com situações externas, que te impedem de crescer, é hora de sair.” Além disso, a especialista recomenda a mudança para quem identifica que a rotina não condiz com a qualidade de vida almejada.
Jornada de autoconhecimento
Descobrir-se foi fundamental para trilhar o caminho desejado por Cristiano. “Eu não gostava de conflitos. Não conseguia expor as decisões com clareza ou expressar o que queria. Aceitava tudo, estava sempre sobrecarregado e estressado e isso me impedia de avançar, porque não conseguia me centrar como pessoa”, avalia.
A mentoria o auxiliou no desenvolvimento pessoal e, consequentemente, profissional, identificando um padrão de comportamento falho com seus objetivos. “Às vezes o que nos impede de dar grandes saltos na nossa carreira são pequenos detalhes, que achamos que não fazem diferença. Eu diria que essa transição foi tão legal, que transcendeu a parte da carreira e refletiu na minha vida. Sai de um cozinheiro, com 20 anos de experiência, para um gestor.”
Talita reforça que a carreira é um processo contínuo de descobertas, pois está, intrinsecamente, conectada com o autoconhecimento. “São várias possibilidades, mas o que recomendo é que a pessoa busque se conhecer, entender sobre as áreas que mais se identifica e se sente bem”, sublinha. Sem idade para começar ou encerrar uma profissão, a mentora garante que tudo são ciclos e questiona: “O que é o emprego dos sonhos para você?”
Para o gestor de food service, a resposta é complexa, mas buscá-la vale a pena. “Se você não fizer nada, em algum momento pode achar que a sua carreira deixou de fazer sentido. Ainda estou em processo de transição. Do gestor para o próximo passo, talvez para um cargo de gerência, executivo, talvez partindo para o empreendedorismo. Depois que entendi que existe um universo para mim, tudo são possibilidades. Não existem barreiras para quem não se limita. A vida é uma transição permanente.”