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- Variedades -

Mulheres reconstroem identidades após o câncer de mama

26.07.2022 por Daiani Aguiar e Ana Paula Figueiredo

Ainda guardo com carinho a recordação do dia em que ganhei o meu sonhado primeiro sutiã. O momento foi como um rito de passagem entre a infância e a adolescência, demonstrando que as bonecas estavam ficando pra trás e que, aos poucos, eu me tornava uma mulher. O meu era branco com estampa azul e amarela, num tecido de algodão macio e que quase nem se preenchia. Quando usava roupas claras sempre ficava marcando, mas não podia trocar já que era o único (e mais especial) que tinha.

Ao longo dos anos nutri uma relação menos carinhosa com o meu corpo, com julgamentos e comparações que hoje entendo terem sido tolices de quem ainda tinha muito o que aprender com a vida. A maturidade chegou (ainda bem) e me mostrou que, mais do que uma questão estética, meu peito é alimento e abrigo. É nele que minha filha recosta a cabeça para descansar, reconhece meu cheiro e entende que, ali, tem proteção.

E é sobre essa amplitude de significados que falaremos nas páginas a seguir, com as histórias de Eduarda Streb e Marta Zambrano, diagnosticadas com câncer de mama, e que passaram não apenas pelas angústias próprias da doença, mas também pela mastectomia (cirurgia de remoção parcial ou total da mama).

Em relatos íntimos às repórteres Ana Paula Figueiredo e Daiani Aguiar, elas compartilharam detalhes de seus processos de luta contra o câncer e como a cirurgia de reconstrução de mama foi fundamental para recuperarem a autoestima, a autoconfiança e o prazer de se sentirem bonitas após o tratamento oncológico.

Nota da editora - Luana Rodrigues

Você precisa saber que:

• O Rio Grande do Sul é o quarto estado com maior índice da doença;

• Em 2022 devem surgir 66.280 casos de câncer de mama no Brasil;

• Se detectada no início, a doença tem 95% de chances de cura;

• Nos últimos 10 anos, 110 mil mulheres passaram pela mastectomia. Destas, 25 mil fizeram a reconstrução mamária;

• O procedimento de reconstrução é assegurado por meio da Lei 12.802/2013 pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

Olhar colorido para a vida

Cheia de expectativas para 2022, a jornalista e empreendedora Eduarda Streb, 49 anos, precisou pausar alguns planos. Os exames rotineiros feitos no final do ano de 2021 apontaram algo diferente em sua mama esquerda. Após a biópsia, foi constatado o câncer. Com histórico familiar da doença nos pais e tios, após o susto inicial, seu posicionamento foi cercar-se de informações para compreender o que estava por vir.

“Descobri entre o Natal e o Ano Novo. Foi assustador. Demorei para assimilar a situação, mas sempre coloquei na cabeça que ia resolver o problema. Depois do choro, busquei médicos e tudo o que precisava saber, e foi fundamental após o diagnóstico. Fui a três médicos e foram unânimes em dizer que eu deveria fazer a mastectomia”, recorda. No entanto, o mais difícil foi compartilhar a realidade com a filha Luiza, hoje com 12 anos. “Quis contar para ela primeiro e ver como íamos enfrentar isso juntas. Queria que eu fosse a fonte dela e que soubesse tudo por mim.”

Foto: Foto: Acervo pessoal.
Foto: Acervo pessoal
Eduarda Streb quando revelou aos seguidores a doença

Do diagnóstico à cirurgia foram pouco mais de 20 dias. “Procuro não pensar na doença, penso na solução”, diz. “Tive muito apoio da família, íamos viajar, cancelaram a viagem. Minhas amigas faziam chamadas de vídeo. Todo mundo quis estar junto e isso me fortaleceu.”

Conquistas celebradas

Diante de um universo desconhecido, Eduarda descobriu a possibilidade de fazer a reconstrução mamária logo após a cirurgia de retirada. Os procedimentos foram realizados no mesmo dia pelo mastologista Dr. Ademar José Bedin Júnior, o cirurgião geral e plástico Dr. Rafael Netto e o cirurgião plástico Dr. Eduardo Chem.

Segundo o Dr. Netto, as mastectomias atuais retiram apenas a glândula mamária, permanecendo a pele, e quando é seguro, a aréola também é preservada, como no caso de Eduarda. “Me sinto plena quando olho no espelho. Foi uma grata surpresa não sentir que faltava um pedacinho de mim”, destaca. “Não tinha ideia do quanto isso impacta a vida das mulheres, o quanto a reconstrução mamária promove autoestima, autoconfiança, algo realmente diferente quando se olha no espelho, que é o amor próprio.”

A forma de encarar os fatos é muito individual, mas conforme a psicóloga clínica com ênfase na área oncológica, Lucy Bonazzi, a resiliência influencia em como a mulher assimila o problema. “É importante que viva seus sentimentos de perda, de preocupação, mas também de confiança”, avalia.

Quimioterapia e crioterapia capilar foram os tratamentos iniciais, que agora são complementados com injeções, medicamentos de uso diário e consultas médicas. Olhar para os desafios com um sorriso foi a forma que Eduarda encontrou para passar pelo período. Para ela, é um momento de construção, em que comemora cada etapa vencida, como a retomada da lavagem normal dos cabelos e dos exercícios físicos. “Procuro ver o lado bom das coisas e o privilégio de poder me tratar e curar”, afirma.

Foto: Foto: Acervo pessoal.
Foto: Acervo pessoal
Eduarda Streb em sua última quimioterapia

Compartilhando vivências

Eduarda também encontra suporte ao dividir momentos do tratamento com seus seguidores nas redes sociais (@eduardastreb). É uma forma de incentivar a importância dos exames preventivos e oferecer um pouco de força a quem passa pela mesma situação. “Descobri muitas mulheres enfrentando esse caminho. Tenho recebido tantas mensagens lindas e de conforto. É a coisa mais real que vivi nas redes sociais. A doença precisa ser enfrentada.”

O temor do diagnóstico

“As mulheres que passam por isso tem que saber: tudo é passageiro”. A frase é da empresária Marta Zambrano, 45 anos, paciente oncológica. Submetida a sete cirurgias, entre mastectomia total e reconstrução mamária, o início da maior superação que já enfrentou se deu em julho de 2017, quando descobriu a doença.“Você não pensa em como vai ser, naquele momento só foca em ficar viva.”

Foto: Foto: Acervo pessoal.
Foto: Acervo pessoal
A empresária Marta Zambrano

Marta se tratou em Santa Cruz do Sul, cidade onde reside. “No dia 8 de setembro removi o quadrante do câncer na mama direita. Em janeiro (2018) fiz sessões de radioterapia e estava curada, perfeita. Nunca imaginei que pudesse dar algo errado”, recorda.

No entanto, em fevereiro de 2019, os exames de rotina detectaram o ressurgimento do tumor e, novamente, Marta confrontou o medo. “Foi mais um susto. Tive que passar por todo o processo de novo e então a médica decidiu pela mastectomia”, conta.

A decisão clínica foi preventiva, baseada no histórico de Marta, que possui 19 familiares, entre avó, irmã, tias e primos com diagnóstico de câncer. Processar a informação de que seria mastectomizada foi um desafio. “Me perguntava: mas por que tenho que tirar? Foi um baque enorme.”

Além do corpo físico

A psicóloga Lucy Bonazzi atribui ao seio a representação da feminilidade, sexualidade e maternidade. “A perda da mama impacta nestas representações e no estado emocional das mulheres.” Também salienta que elas vivem a sensação da perda da saúde em decorrência do diagnóstico, mas que este difícil processo “aos poucos, vai sendo superado.” Nesse sentido, a especialista pondera que a reconstrução mamária está além do corpo físico, significa a possibilidade de promover à paciente o sentimento de alívio e assimilação para que enfrente as fases necessárias, buscando a melhor forma de viver.

Foi o caso de Marta após conhecer o Dr. Netto. Passados seis meses do tratamento com o cirurgião, ela se encaminhava para a última operação: a reconstrução do mamilo. Após, fez a tatuagem da aréola e o tão esperado encerramento de um ciclo, chegou. “Foi um processo bem lento, mas mesmo não sendo fácil, eu faria tudo de novo, porque me sinto outra mulher. Tenho autoestima, vontade de viver. Sou muito grata.”

Ciclo de incertezas

A operação ocorreu em 13 de maio de 2019, mesmo dia em que a paciente recebeu o implante de silicone. Tudo parecia se encaminhar para a superação daquele período, mas cinco dias após o procedimento, Marta precisou ser submetida à nova remoção. De acordo com o médico Rafael Netto, a prótese direita foi perdida por uma infecção na zona da radioterapia e, por precaução, removeu-se também a esquerda. “Foi um tormento ter que esperar para fazer a reconstrução. Fui em uma cirurgiã plástica e ela disse que não ficaria bom, que não era para ter expectativa. Saí de lá arrasada”, lembra, emocionada.

Era janeiro de 2020 quando Marta saiu feliz do consultório do Dr. Rafael Netto. “Eu cheguei mutilada, machucada, sem autoestima, pensando que jamais teria meu peito novamente. Ele mudou tudo, me olhou com carinho”, observa. Para ela, conhecer o especialista evidenciou a importância de as mulheres irem em busca de um profissional qualificado. Receber o apoio da família, amigos e equipe profissional a auxiliou para atravessar a fase. “Minhas colaboradoras me presentearam com o livro ‘A parte que falta’, que me ajudou e recomendo muito.”

Foto: Foto: Acervo pessoal

Prevenção

Quando em 2013 a atriz Angelina Jolie fez uma dupla mastectomia preventiva, foi uma das pioneiras e o assunto gerou repercussão e críticas. Na época, aos 37 anos, ela tinha histórico familiar e uma alteração no gene BRCA1 com 87% de chances de ter câncer de mama. A cirurgia reduziu o índice para 5%.

Segundo o Dr. Netto, depois que os planos de saúde foram obrigados a pagar o teste genético para identificar o risco de câncer de mama, houve crescimento na procura pela cirurgia. “O processo da Angelina Jolie trouxe bastante informações. Também observei um aumento de pacientes jovens, com alteração genética que buscam a cirurgia preventiva, além dos casos de jovens com câncer de mama”, declara.

É importante ter atenção a possíveis nódulos ou sintomas suspeitos nas mamas. A detecção pode ser feita por exames clínicos e de imagem como mamografia, ultrassonografia ou ressonância magnética.

Prazer em se olhar

Saber da necessidade de fazer a retirada da mama ou de parte dela interfere imediatamente no processo de autoestima da mulher e no seu conceito de feminilidade. É um momento doloroso, em que as mulheres ficam vulneráveis e desacreditadas na possibilidade da retomada da vida e da autoimagem.

De diferentes complexidades, cada caso merece avaliação individualizada. No consultório do cirurgião plástico do Núcleo de Mama do Hospital Moinhos de Vento em Porto Alegre, Dr. Rafael Netto, as consultas para reconstrução mamária representam 60%, e cerca de 150 procedimentos são realizados anualmente, sendo 50% dos casos de alta complexidade. “A idade influencia na reconstrução, mas não é fator limitante. Se a mulher tiver boa saúde, ela poderá fazer a cirurgia”, aponta ele, que recebeu recentemente uma paciente com mais de 80 anos.

Foto: Foto: Divulgação.
Foto: Divulgação
Dr. Rafael Netto

O desejo de fazer a reconstrução deve partir primeiramente da mulher, quando ela manifestar segurança e confiança nos resultados. A avaliação da saúde global e anatomia da paciente pode indicar as melhores possibilidades para cada caso. “Atualmente a reconstrução ideal é aquela feita no momento da retirada da mama. Há vários tipos de reconstrução, com prótese de silicone, com retalhos perfurantes. É importante que o cirurgião esteja integrado na equipe que está fazendo o tratamento da paciente”, explica.

Os números apontam que, além do aspecto estético e de se olhar com carinho novamente, a reconstrução da mama reflete na recuperação emocional da mulher e de sua saúde mental. “A mulher com acesso à reconstrução tem uma resposta positiva emocional e sexual melhor. Não adianta a gente curar, se não habilitar para a vida. É preciso manter a paciente positiva no tratamento oncológico, e a reconstrução muda completamente o curso do tratamento”, diz Netto. Há também a possibilidade de fazer a reconstrução tardia, após a conclusão do tratamento.

Acolhimento

A psicóloga Lucy Bonazzi pontua que, após a descoberta da condição de saúde, a mulher passa por várias fases. É como a representação de um luto, impactante no início, até absorver o contexto de tudo. Neste momento é fundamental que receba empatia e solidariedade. “Podemos tentar nos colocar no lugar de uma mulher que perdeu a mama, mas quem não viveu isso jamais chegará perto de como ela se sente. É preciso, portanto, compreender e permitir que ela sinta o que tiver que sentir, tendo a certeza de que terá o carinho e apoio de quem estiver por perto.”

Foto: Foto: Divulgação.
Foto: Divulgação
Psicóloga Lucy Bonazzi

 

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