Há 73 anos o Dia dos Namorados, celebrado em 12 de junho, representa para os brasileiros um momento carregado de amor e compromisso. Mesmo tendo sido criada como estratégia publicitária, afim de aquecer o setor comercial, a data está atrelada ao romance e mobiliza muito além de lojas, mas relações e sentimentos profundos.
Para alguns, o mês é sinônimo de carinho e afetividade dedicado a alguém, para outros, está associado à liberdade de dedicar-se a si. Mas relacionamentos são singulares? A analista comportamental e corporal, especialista em relacionamento, Rosangela Matos, explica que sim. “O relacionamento não é uma matemática exata. Não existe uma única forma de se relacionar e ele não é o mesmo ao longo do tempo. O amor muda, tem versões e, principalmente, é uma escolha diária”, afirma.
De acordo com a especialista, os pilares para manter um relacionamento saudável são amor, admiração, comunicação, sexualidade, parceria, amizade e objetivos em comum. Nas próximas páginas você vai conhecer as histórias de amor em diferentes abordagens: os desafios de quem escolhe estar junto mesmo à distância; a vivência do relacionamento após o nascimento dos fi lhos, e para além da representação romântica, a plenitude da valorização de si e do amor próprio.
Separados por 775 quilômetros
Quantas vezes você já ouviu a frase “amar não é sufi ciente”? Para a especialista em relacionamento, Rosangela, o mais importante é a escolha do casal de fazer dar certo. E esta é a decisão que mobiliza Marta Alencar, 33 anos, e Márcio Barros Fontes, 24. Mesmo a 775 quilômetros de distância, eles escolhem, diariamente, viver uma história de amor.
A jornalista e doutoranda em comunicação conheceu, há quatro anos, o técnico em informática e estudante de Medicina, quando era colaboradora de uma escola no Piauí, a qual Márcio cursava o preparatório para o vestibular. “Foi meio proibido, mas quando começamos a namorar, eu já tinha saído”, lembra ela. Após alguns encontros se apaixonaram e toda a vontade de permanecer juntos foi interrompida, devido a aprovação de Márcio em uma universidade no Rio Grande do Norte. “Eu sabia que isso poderia acontecer, dele estudar em outro estado”, salienta Marta.
De acordo com Rosangela, todos os relacionamentos exigem muito envolvimento e comunicação, mas os desafios são maiores para aqueles que estão em uma experiência separados. “É necessário ter maturidade. Os dois precisam escolher como lidar com os desafios, porque quando existe distância e sem contato assíduo, as situações tomam uma proporção muito grande”, destaca. Segundo ela, o casal precisa buscar formas de se manter próximos e matar a saudade, tendo como questão central o alinhamento dos propósitos. “Precisam saber o que estão buscando e ter estabelecido o tempo que a relação permanecerá assim.”
Uma rotina de saudade
A última vez que Marta e Márcio estiveram juntos foi em fevereiro deste ano, completando quatro meses longe. Porém, chegam a ficar um semestre sem contato físico. “Geralmente eu que vou e tento ficar de dois a três meses com ele.” No entanto, Marta avalia a rotina com leveza. “Somos muito tranquilos, a gente se entende. Ele sabe que sou livre e independente e que cada um tem sua liberdade. Gostamos de viajar, estar com a família e temos poucos amigos. Ele sabe que gosto de trabalhar e estudar bastante, e eu sei que ele também é assim.”
Como forma de manter a conexão e alimentar assuntos em comum, a especialista em relacionamento indica criar momentos juntos, como cozinhar durante chamadas de vídeo e assistir ao mesmo filme ou série. Além de não deixar de contar detalhes do cotidiano e confiar. “Deve ter confiança no outro, ter consciência do tempo de cada um, fazer o máximo para diminuir a distância, mas não se tornar prisioneiro da tecnologia”, orienta.
Para Márcio, o diálogo é fator pilar. “Um se colocar no lugar do outro é permanente na nossa relação. Amor, respeito e alegria também. Saber que tem alguém torcendo por você, que lhe ame, que estará nos momentos bons e ruins, isso faz manter a nossa união.” O casal diz se sentir incentivado pela família e pela religião. “Deus é o centro do nosso relacionamento.”
Planos
Ambos pensam em se casar após a graduação de Medicina, mas têm dúvida sobre onde residir. Novos desafios aguardam por eles. Marta escolheu São Leopoldo, no Rio Grande do Sul, para cursar o doutorado. Serão, portanto, quase 4 mil quilômetros os distanciando, mas com o apoio do namorado, a jornalista se sente animada para viver novas experiências. “Eu sempre quis sair do Nordeste e acredito que o amor não tem idade, não tem distância. O amor supera o tempo, é capaz de qualquer coisa. O amor muda e transforma. Nos fortalece. O amor é Deus e é isso o que nós pensamos.”
O amor multiplicado
A parceria e o cuidado com o outro são características essenciais em um relacionamento e se tornam mais evidentes após o nascimento dos fi lhos. Juntos há oito anos, a estilista Daniela Mello Seewald, 39, e o empresário Victor Cruzeiro, 41, são pais de Davi, de quatro anos e meio, e estão à espera da fi lha Nina, que nascerá em outubro.
Como forma de manter o relacionamento saudável, Daniela conta que ela e o marido sempre arranjaram tempo para seus momentos mesmo depois de serem pais. “Após o nascimento do Davi tínhamos pelo menos uma noite no mês em que saíamos para programas só nossos como jantar, cinema e passeios. Foi uma coisa que se perdeu um pouco com a pandemia, mas ano passado já voltamos a realizar”, ressalta. “E como o Victor tem a própria empresa e eu sou autônoma, sempre conseguimos encaixar programas a dois, durante o dia, enquanto o pequeno está na escola. Posso dizer que nossos momentos são muito mais diurnos do que noturnos, justamente por termos esse privilégio de conseguirmos ajustar as agendas para isso”, destaca.
Para a especialista em relacionamento Rosangela Matos, o cuidado mútuo e a clareza de que os pais ainda são um casal são essenciais para o fortalecimento da relação. Segundo ela, os pais devem pensar que além do bem para eles próprios, a atenção ao casamento fará bem também aos fi lhos e os desafios serão encarados de forma mais leve. Ela sugere que, se possível, o casal tenha pelo menos uma hora na semana para conversar sobre outros assuntos além da maternidade e paternidade: “A vida não para quando chegam os filhos.”
Atenção especial à relação
Segundo Daniela, ainda que tenha sido um período tranquilo após a primeira gestação, a nova rotina impactou a relação. “Sempre nos respeitamos e temos um relacionamento muito leve. Nunca tivemos uma briga e o nosso amor só se intensificou depois do nascimento do Davi”, afirma. “Mas, logo que ele nasceu, a intimidade esfriou um pouco, a gente nem pensava nisso. Enquanto mulher, perdi a libido e meu parceiro entendeu. Eu não sentia falta, e essa fase durou mais ou menos um ano. Então comecei a me preocupar porque o sexo também é importante na vida do casal.”
Conforme Rosangela, no pós-maternidade muitas vezes a rotina é exaustiva, com privação de sono, mudanças no corpo da mulher, sendo ainda mais necessário o zelo entre o casal. “Precisamos lembrar que quando chega uma outra pessoa, por mais que seja muito desejada, vai impactar na relação porque o casal se prepara para o nascimento do filho, estuda sobre o parto e a amamentação, mas não sobre as mudanças que irão acontecer. No início os dois precisam usar forças para cuidar do bebê juntos, e nesse momento o que mantém muito o relacionamento é o cuidado”, salienta.
Mesmo com a confiança, o respeito e a compreensão do marido, Daniela se preocupou com a pouca intimidade e procurou orientação médica. “Achava que era hormonal, busquei ajuda da minha ginecologista para regularizar os hormônios. Isso nunca foi um problema pra gente, pois somos muito parceiros. E agora se aproxima uma nova mudança, não sei se ele já pensou nisso. Acho que vai dar uma bagunçada de novo na rotina e intimidade”, avalia.
Daniela ainda acredita que, às vezes, a situação da possível perda de intimidade pode ser confundida com falta de amor, e uma terapia pode ser importante. “No meu caso foi tranquilo talvez por influência da nossa relação, porque eu tinha e tenho um marido muito parceiro e compreensivo.”
Desconstrução de vivências
Há quem diga que mudanças são importantes para o crescimento pessoal ou profissional e que o tempo ameniza dores, mostra melhores caminhos e soluções. A analista comercial Monique Rocha Farias, 28, percebeu isso após uma transição inesperada.
Casada, em um relacionamento de 11 anos, com a vida planejada para um grande passo – a adoção de uma criança –, Monique viu seus sonhos serem desfeitos repentinamente. “Tínhamos um relacionamento feliz, lembro que tivemos um final de semana maravilhoso na Serra com amigos e na segunda-feira seguinte ele rompeu comigo. Disse que tinha dúvidas sobre o nosso relacionamento. Eu estava vivendo um casamento saudável, com projeções e planos, e meu mundo desabou”, recorda.
Monique e o ex-marido começaram a namorar quando ela tinha 16 e ele 18. Após seis anos de namoro foram morar juntos. “Em 2020 começamos a pensar em adotar uma criança. Casamos no civil em agosto daquele ano, no mesmo dia em que fizemos dez anos de namoro. Estávamos fazendo toda a documentação, pois no final de 2021 daríamos entrada no processo de adoção.” Mas o casamento acabou em junho de 2021.
Para a especialista em relacionamento, Rosangela Matos, é importante que numa situação como essa a pessoa vivencie a experiência em sua totalidade. “Existe um período em que, independentemente da forma que a relação acabou, a pessoa vai passar por um processo de luto e lidar com faltas e mudanças, e nesse processo ela precisa ter um reencontro com a sua essência”, aconselha.
Redescoberta de si
Monique passou por um período de reflexões, aprendizado e autoconhecimento. “Eu não sabia viver na ausência dele. Eram muitos anos de vida em comum diariamente, foi muito difícil aprender a conviver com a minha companhia. Foi um processo longo de descobertas e a evolução pessoal que tive foi muito grande. Aprendi a me colocar em primeiro lugar e a ver que o relacionamento não era tão saudável para mim. Por muito tempo coloquei ele em primeiro lugar, mesmo não sendo uma exigência dele”, lembra.
Rosangela diz que o autoconhecimento e o se redescobrir são alternativas que podem ajudar na superação da situação. Para isso é preciso cuidar de si e ter novos objetivos. “O amor próprio é resultado de pequenas escolhas diárias. É o que você escolhe fazer e como se comporta na vida, as relações que decide ter e a maneira de pensar e agir. Quem supera mais rápido não é o mais forte, mas quem consegue se amar e ter um novo propósito.”
Se amar é um processo
Para Monique, o suporte da família e dos amigos foi fundamental para a retomada da autoestima e confiança para seguir adiante. “Meus amigos e família foram a minha base. Sem eles realmente nada seria possível”, avalia. “Tive que aprender a me amar e me relacionar com outras pessoas. O tempo mostrou muita coisa e me deu maturidade para enxergar o que quero num próximo relacionamento. Hoje estamos em processo de divórcio, mas temos uma boa relação. Entendemos que deu certo enquanto durou. Interagimos bem e desejo que ele seja muito feliz.”
A valorização de si foi um dos grandes ensinamentos de Monique. “Se amar é um processo. Fui criando momentos comigo mesma. Gosto de ver séries, ler livros, tomar um vinho. Então comecei a criar uma rotina para curtir a minha companhia”, pontua. Desde janeiro de 2021, Monique vive em Nova Petrópolis e tem muitos planos. “Nunca imaginei viver assim, sozinha em outra cidade, e está sendo uma grande experiência. Estou muito focada profissionalmente, quero terminar o curso de Gestão da Produção e crescer cada vez mais. Pretendo viajar, conhecer outros lugares, sozinha ou com amigos. Sou nova, tenho muitas coisas para viver.”